O oncologista e ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, disse neste domingo (24/05) que sua saída do cargo ocorreu por “desalinhamento” com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a ampliação do uso da cloroquina e hidroxicloroquina para o tratamento do coronavírus.
“Quem vai julgar o presidente é o futuro, não vai ser eu. Meu papel era traçar um caminho [para o combate à pandemia], mas não houve convergência com o presidente e eu não vou julgar ninguém”, disse Teich em entrevista à Globo News.
O médico pediu demissão do cargo em meio ao aumento de casos e mortes pelo coronavírus e em um momento em que Bolsonaro pressionava o Ministério da Saúde para recomendar o uso da cloroquina no tratamento de pacientes, mesmo sem comprovação científica de sua eficácia.
Ele defendeu que o ministério reveja o documento publicado em 20 de maio, em que amplia a possibilidade de uso dos medicamentos para pacientes com sintomas leves do coronavírus. O próprio texto reconhece que não há evidências suficientes de eficácia e o termo de consentimento do uso em paciente cita risco de agravamento da condição clínica.
Teich diz que o protocolo defendido pelo ministério deveria ser revisto após pesquisa indicar maior risco de morte aos pacientes que usarem os medicamentos.
“Eu queria despolarizar a cloroquina. Acho que tem que ter uma política, uma gestão adequada. O uso do recurso tem que ser adequado, não posso gastar com algo que não se sabe se funciona, quando falta dinheiro para tanta coisa urgente”, disse Teich.
Teich evitou críticas ao presidente e negou que sofreu pressão para que o ministério ampliasse o uso de cloroquina no país, mas afirmou que a divergência com Bolsonaro motivou sua demissão. “Não houve alinhamento com o presidente. Ele é o chefe da nação, ele me colocou ali. Se não há alinhamento, eu tenho que sair. É ele quem define tudo”, disse.
O médico afirmou que, desde quando aceitou o convite para comandar o ministério, sabia da divergência com Bolsonaro sobre o uso do medicamento sem comprovação científica. “Existia diferença entre mim e o presidente de como abordar o problema. Isso era público. Mas a maior discussão quando entrei não era cloroquina, mas isolamento”.
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