O 1º caso da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, foi confirmado no Brasil em 26 de fevereiro de 2020, há menos de 2 meses. Os casos registrados já ultrapassaram 30.000, com mais de 2.000 mortes.
A nova pesquisa do DataPoder360, no entanto, mostra que até agora só 8% dos brasileiros dizem ter sido infectados ou conhecerem alguém próximo que foi infectado pelo vírus. Mas mostram também como a população já está sentindo os efeitos da crise causada pela covid-19 na saúde, na economia, nos hábitos do dia a dia e também na política.
Os números mostram que, em meio à discussão sobre as melhores políticas de isolamento social e controle da pandemia, 1 realinhamento político relevante está acontecendo.
Por 1 lado, o presidente Jair Bolsonaro não se beneficia de 1 aumento de popularidade, como ocorre com alguns chefes de Estado de outros países. Mas, por outro, os números também mostram que sua aprovação não está sendo prejudicada por suas escolhas na condução da crise.
A estabilidade dos números esconde movimentos que acontecem simultaneamente em parcelas diferentes da população. A aprovação do presidente está caindo no segmento com maior instrução, com nível superior completo ou incompleto e também com maior renda (acima de 10 salários mínimos por mês).
Ao mesmo tempo, Bolsonaro está ganhando espaço e fidelizando o apoio dos segmentos de classe média, classe média baixa e dos mais pobres. A aprovação ao presidente é significativamente maior entre pessoas com instrução até o ensino fundamental e médio, e também entre famílias que ganham até 5 salários mínimos por mês.
Para compreender a mudança de alinhamento político, basta observar os números de intenção de voto em Bolsonaro em 2018 e a avaliação atual de seu governo.
Logo antes da eleição, Bolsonaro tinha cerca de 40% dos votos tanto dos eleitores com ensino superior quanto das pessoas com renda acima de 10 salários mínimos.
Embora também liderasse com ampla margem entre pessoas que recebiam de 5 a 10 salários, Bolsonaro aparecia atrás de Fernando Haddad na parcela do eleitorado com nível de instrução até o ensino fundamental.
Hoje, 54% das pessoas com ensino superior e mais de 60% das pessoas com renda acima de 10 salários mínimos avaliam o governo Bolsonaro como ruim ou péssimo. Simultaneamente, o presidente é avaliado como ótimo ou bom por 45% das pessoas com nível de instrução até o fundamental.
Essa é uma mudança relevante. Certamente terá consequências no cenário político nacional. Entretanto, a dinâmica da crise do coronavírus é incerta e volátil e é preciso cautela na elaboração de qualquer diagnóstico.
O que a pesquisa do DataPoder360 mostra ser 1 consenso é que o coronavírus é de longe o assunto mais presente no debate público: 81% das pessoas entrevistadas afirmam que acompanham as notícias sobre o vírus com muita frequência, 18%, de vez em quando, e somente 1% da população diz não acompanhar as notícias sobre o coronavírus.
A maioria da população brasileira afirma seguir as recomendações de isolamento. Quase 2/3 das pessoas (65%) disseram não ter saído de casa para trabalhar nas últimas duas semanas. Já 72%, dos entrevistados disseram não ter estado em lugares com muitas pessoas como ônibus ou metrô nas últimas duas semanas.
A pesquisa deixa claro o impacto econômico na população brasileira. 63% disseram ter o emprego ou a renda afetada por causa do coronavírus. Esse número, entretanto, não é igual para todas as parcelas da população. Pessoas mais velhas, com mais de 60 anos, com renda acima de 10 salários mínimos e com ensino superior completo ou incompleto dizem estar sendo menos impactadas financeiramente que a média da população.
Em termos de trabalho e renda, os segmentos da população que afirmam ser mais impactados são as pessoas com grau de instrução até o ensino fundamental e médio. Essa percepção de impacto nas finanças pessoais pode explicar em parte a mudança na composição do apoio ao presidente Bolsonaro no momento atual.
A avaliação do impacto do coronavírus e da quarentena no emprego e na renda da população, contudo, ainda não convenceu os brasileiros de que é o momento de todos voltarem ao trabalho. Na opinião de 49% dos entrevistados na pesquisa, todos ainda devem ficar em casa.
Ao mesmo tempo, 1 número relevante –41%– acredita que os mais jovens já podem voltar a trabalhar com máscaras. É uma margem relativamente pequena, mas que mostra que ao menos até agora, a preocupação com a vida e com a saúde suplanta a preocupação com emprego, renda e a economia.
Uma ressalva é importante e necessária. Quando se trata da parcela mais pobre da população (desempregados ou sem renda fixa), há uma divisão quase ao meio: 47% acham que os mais jovens devem voltar a trabalhar já, usando máscaras e 46% preferem que todos fiquem em casa. É compreensível, pois 77% desses brasileiros dizem já ter sofrido algum prejuízo na renda ou no emprego. São os que estão mais ávidos pelo fim da política de confinamento e também os mais propensos a simpatizar, no momento, com o discurso de Jair Bolsonaro.
A pesquisa avaliou também a percepção das pessoas sobre o desempenho de Bolsonaro especificamente no combate ao coronavírus. Os números são praticamente iguais a avaliação geral do trabalho do presidente: 34% dos brasileiros avaliam o desempenho de Bolsonaro no combate ao vírus como ótimo ou bom, 27% como regular e 37% como ruim ou péssimo.
A avaliação do desempenho do presidente no combate ao vírus parece ser fortemente correlacionada com a avaliação das pessoas sobre o governo Bolsonaro de forma geral. Isso quer dizer que se uma pessoa já era simpática ao presidente, provavelmente avaliará os esforços do Executivo na crise do coronavírus de maneira positiva. Se uma pessoa já não simpatizava com o governo, provavelmente avaliará negativamente o desempenho do governo.
A pesquisa foi realizada de 13 a 15 de abril de 2020. Antes, portanto, antes da demissão de Luiz Henrique Mandetta do posto de ministro da Saúde e da posse de Nelson Teich.
Mandetta deixou a pasta com avaliação positiva de 64% dos brasileiros. Apenas 4% dos entrevistados classificaram o trabalho do ministro como ruim ou péssimo.
O agora ex-ministro da Saúde foi avaliado positivamente mesmo nos segmentos mais favoráveis ao presidente Bolsonaro, apesar das intrigas que culminaram na sua saída. A avaliação positiva do trabalho do ministro chega a 75% entre pessoas com renda entre 2 e 5 salários mínimos.
Governadores e prefeitos também estão sendo relativamente bem avaliados em seus esforços no combate ao coronavírus. No geral, 44% dos brasileiros avaliam o desempenho dos governadores como ótimo ou bom e apenas 17% como ruim ou péssimo. Já para os prefeitos, a avaliação positiva é de 41% e 22% de avaliação negativa.
A crise do coronavírus parece ainda estar longe de acabar. Os efeitos na saúde, na economia e na política já estão sendo sentidos em todas as regiões do Brasil. O cenário, entretanto, é de grande incerteza e precisará ser monitorado com frequência e profundidade analítica.
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