Após comandar uma entrevista na tarde desta quarta-feira (15/04), com jornalistas, o ministro da Saúde, Fernando Henrique Mandetta, concedeu entrevista à revista Veja, revelando cansaço e confirmando sua saída da pasta.
O tom de despedida entre Mandetta, Wanderson de Oliveira e o secretário-executivo João Gabbardo, na coletiva para expor os números da crise de coronavírus no Brasil, leva a crer que será a última coletiva pilotada pelo ministro. Ele revelou estar cansado e que não permanece no governo. “São 60 dias nessa batalha”, comentou.
Mais cedo, o secretário de Vigilância e Saúde, Wanderson de Oliveira, pediu demissão do cargo, mas o pedido foi negado por Mandetta. “Entramos juntos e sairemos juntos”, disse o ministro.
“Não tem mesmo mais jeito de permanecer no governo, ministro? De permanecer no governo? Não, não. São 60 dias nessa batalha. Isso cansa! Sessenta dias tendo de medir palavras. Você conversa hoje, a pessoa entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente. Você vai, conversa, parece que está tudo acertado e, em seguida, o camarada muda o discurso de novo. Já chega, né? Já ajudamos bastante”, disse o ainda Ministro.
Perguntado sobre se a política de combate à pandemia vai mudar, ele falou: “Não sei, mas acho que o vírus se impõe. A população se impõe. O vírus não negocia com ninguém. Não negociou com o (Donald) Trump, não vai negociar com nenhum governo”.
Questionado sobre onde trabalharia depois da demissão, Mandetta disse que “tem que ganhar o ganha pão”. “Meu caçula, o Paulo, está no último da faculdade de Direito na USP, em São Paulo. O Pedro, que é médico, está na residência de cirurgia geral na Santa Casa de Campo Grande, e a Marina, que é advogada e mãe do meu netinho”, disse.
Ele descartou os rumores que surgiram de que ele iria para o governo de Goiás, do governador Ronaldo Caiado. “Não tem nada disso. Eu posso ajudar lá informalmente, como posso ajudar qualquer outro governo ou prefeitura”.
Mandetta afirmou ainda não se arrepender de fazer parte do governo do presidente Jair Bolsonaro. “Não. De jeito nenhum. Não me arrependo de nada”, afirmou o ministro.
O ministro ainda não sabe quem o substituirá no Ministério. “A gente tem compromisso com o país. Aqui é tudo marinheiro antigo, não tem principiante, ninguém vai torcer contra”, finalizou.
O presidente Jair Bolsonaro vem tomando um tom em relação ao ministro de insatisfação, pois ele é contrário as medidas de prevenção ao coronavírus tomada pelo número 1 da pasta, como a manutenção da quarentena imposta por governadores e com apoio do Ministério da Saúde.
Bolsonaro, mais cedo, compartilhou um vídeo nas redes sociais intitulado “Os Sócios da Paralisia” que critica o isolamento social ao questionar a comprovação do efeito da medida no combate ao coronavírus. A publicação conta com críticas ao ministro Mandetta.
“Você está em casa assistindo o governador de São Paulo assumir a paternidade da cloroquina, o ministro da saúde explicar que traficante também é gente, jornais estrangeiros publicarem fotos de covas abertas para dizer que o Brasil não tem mais onde enterrar seus mortos, entre outras referências intrigantes e estridentes ao mesmo assunto. Se você está paralisado, catatônico é porque você já sabe que isso é um show mórbido, mas você está esperando que alguém te diga isso. Então vamos lá: Isto é um show mórbido. Levanta daí. Onde estão os mapas demonstrando os resultados diretos do isolamento total na contenção da epidemia ou na suavização dos picos? Eles não existem”, diz parte do vídeo narrado pelo jornalista Guilherme Fiuza.
O vídeo fez referência a uma coletiva em que Mandetta defendeu que para combater o Covid-19 nas favelas seria preciso “dialogar” com milicianos que controlam certas regiões no Brasil.
“Você tem que entender a cultura, a dinâmica. Ali a gente tem que entender que são áreas que muitas vezes o estado está ausente, que quem manda é o tráfico, quem manda é a milícia. Como é que a gente constrói essa ponte em nome da vida e da saúde? Dialoga sim, com o tráfico, com a milícia, porque eles também são seres humanos e eles também precisam colaborar, ajudar, participar”, disse Mandetta na época.
Siga o Jornal do Sisal no Google News e seja alertado quando uma notícia na sua região for postada. Clique aqui!
Comentários