O apresentador e empresário Luciano Huck criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pelo insulto proferido nesta terça-feira (18), com insinuação sexual, contra a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo. Para Huck, o episódio ultrapassou as fronteiras da decência.
Apontado como pré-candidato à Presidência da República em 2022, o comunicador afirmou em redes sociais que “atiçar a violência contra a mulher e atacar o jornalismo independente são desserviços monstruosos”.
Huck manteve uma atuação discreta nas últimas semanas sobre questões diretamente ligadas ao governo Bolsonaro. O apresentador já foi criticado pelo próprio presidente e por seus apoiadores por causa de opiniões sobre a atual gestão.
“Tenho evitado comentar declarações públicas de quem quer que seja. Seja porque torço pelo Brasil, seja porque não quero alimentar fofocas e intrigas. Mas as fronteiras da decência foram ultrapassadas hoje. Triste e revoltante ao mesmo tempo”, afirmou ele nesta terça.
“Respeito é a base de qualquer sociedade e pilar da democracia. Atiçar a violência contra a mulher e atacar o jornalismo independente são desserviços monstruosos. Meu apoio à mulher e jornalista [Patrícia] @camposmello”, completou.
— Luciano Huck (@LucianoHuck) February 18, 2020
Respeito é a base de qualquer sociedade e pilar da democracia. Atiçar a violência contra a mulher e atacar o jornalismo independente são desserviços monstruosos. Meu apoio à mulher e jornalista @camposmello
— Luciano Huck (@LucianoHuck) February 18, 2020
A fala de Bolsonaro provocou reações de parlamentares, de entidades de jornalismo e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que condenaram a atitude. A Folha de S.Paulo, em nota, disse que o insulto do titular do Planalto agride Patrícia e todo o jornalismo profissional.
“Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim [risos dele e dos demais]”, disse o presidente, em entrevista diante de um grupo de simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada.
A ofensa do presidente à jornalista foi uma referência ao depoimento de um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, dado na semana passada à CPMI das Fake News no Congresso.
Líderes políticos de diferentes partidos também repudiaram o gesto de Bolsonaro. O ex-presidente Lula (PT) disse que “está na hora de ele aprender bons modos” e interromper o “comportamento cotidiano” de ofender e achincalhar as pessoas.
“Lamentavelmente me parece que a democracia não chegou à cabeça das pessoas. Me parece que a educação, o respeito, não chegou à cabeça do presidente Bolsonaro”, comentou o petista.
Esse comportamento do Bolsonaro já virou cotidiano dele. Ofender e achincalhar as pessoas. Lamentavelmente me parece que a educação e o respeito não chegaram à cabeça do presidente. Já deu a hora dele aprender bons modos. Educação faz bem pra todo mundo. pic.twitter.com/F7JIFJwjxk
— Lula (@LulaOficial) February 18, 2020
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), defendeu o respeito à liberdade de imprensa e classificou como desrespeitosa e condenável a postura de Bolsonaro. “Considero muito desrespeitosa a atitude do presidente mais uma vez em relação aos jornalistas, em especial a uma jornalista mulher.”
Os presidentes dos demais Poderes silenciaram sobre o ataque. Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, foram procurados por meio de suas assessorias de imprensa, mas não se manifestaram.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, também não se posicionou sobre a declaração do presidente.
Há algumas semanas, ao participar do Fórum Econômico Mundial em Davos, Huck foi chamado de próximo presidente do Brasil. O apresentador evitou fazer menções diretas a Bolsonaro, mas falou que o país merece representação melhor no exterior. “O Brasil precisa ser mais bem representado, para além da economia”, afirmou.
Dias depois, em artigo publicado na Folha de S.Paulo, ele afirmou que o país necessita de uma ampla coalizão para enfrentar a desigualdade, martelando aquele que deve ser seu mote de campanha, caso decida concorrer ao Planalto em 2022.
O apresentador, que se movimenta no cenário político por meio do apoio a iniciativas como o grupo Agora! e a escola de formação de candidatos RenovaBR, não é filiado a partido, mas tem sido assediado pelo Cidadania.
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