A Polícia Federal (PF) incinerou nesta quarta-feira (6/11) cerca de oito toneladas de pó de ‘mimosa hostilis’, conhecida como ‘jurema negra’. A droga foi apreendida em outubro durante a Operação Roots nas cidades de Navegantes (SC), Conceição de Coité , na região do sisal na Bahia, e Buri (SP).
A operação tem finalidade de combater o tráfico internacional de pó de jurema negra. O material era destinado a países como Chile, Bulgária, Canadá e Argentina. Em Coité, a operação da PF aconteceu no Distrito Salgadália distante cerca de 17 km da sede do municipio. A identidade dos envolvidos não foram divulgadas.
O grupo criminoso havia declarado falsamente que exportava extrato de mimosa acácia, mas na verdade enviava mimosa hostilis, uma planta psicodélica controlada no Chile. Durante a operação, foram cumpridos dois mandados de prisão, nove de busca e apreensão, além do sequestro de bens e ativos financeiros dos envolvidos.
O que é a mimosa hostilis
A Mimosa hostilis, ou “jurema-preta”, é uma planta típica do bioma da caatinga, comum no semiárido brasileiro e em grande parte do Nordeste, bem como em países como México, El Salvador, Honduras, Panamá, Colômbia e Venezuela.
Essa árvore chama atenção tanto pela sua resistência ao clima árido quanto pelas propriedades de sua casca, que possui uma substância de grande valor cultural e medicinal: a dimetiltriptamina (DMT), conhecida como a “molécula do espírito”.
A DMT é um composto psicodélico e alucinógeno do grupo das triptaminas, extraído da casca da Mimosa hostilis. Quando a casca é triturada, ela dá origem a um pó rico em DMT, que há séculos é utilizado em rituais religiosos e medicinais entre povos indígenas do Brasil e da América Latina.
A substância é famosa por induzir uma experiência psicodélica intensa, que pode levar a uma sensação de “despertar espiritual”. Esse efeito é particularmente buscado em rituais religiosos, onde o objetivo é “criar uma conexão com o mundo espiritual”.
No Brasil, um exemplo notável do uso ritualístico da Mimosa hostilis está no “Culto da Jurema”, uma tradição religiosa popular na Paraíba e em Pernambuco. Nessa prática, que começou com os povos indígenas e continua viva até hoje, a planta é considerada sagrada e essencial para os rituais de conexão espiritual.
A dimetiltriptamina é também o princípio ativo da ayahuasca, chá psicodélico tradicional entre os povos indígenas da Amazônia usada em rituais religiosos e terapias medicinais.
Os efeitos da DMT são intensos, rápidos e duram pouco tempo. Ela age diretamente nos receptores de serotonina no cérebro, promovendo alucinações vívidas, euforia, distorção de cores e sons, percepção alterada do tempo e até mesmo a sensação de uma experiência “fora do corpo”. No entanto, esses efeitos psicodélicos também trazem riscos.
Entre os efeitos colaterais comuns estão agitação, pressão alta, diarreia, vômito, tontura, batimentos cardíacos acelerados e pupilas dilatadas. O uso indevido e fora de contextos controlados pode levar a problemas psicológicos sérios, incluindo sintomas de esquizofrenia e outras condições psiquiátricas.
A Anvisa proíbe o uso do DMT no Brasil. No entanto, a resolução do Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas (Conad), “prevê exceção para utilização deste tipo de produto (chá) em rituais religiosos”.
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