Resumo
- Houve aumento do preço da carne de boi em 2020
- Especialista veem o aumento devido a grande seca do centro-oeste e aumento da saca de ração
- Procura pela carne de frango, ovo e carne suína aumentaram bastante devido ao aumento
- Consumo do ovo de galinha registrou crescimento na pandemia
- Taxas de desemprego e fome são alarmantes no Brasil
O aumento do preço da carne de boi foi um dos efeitos que a crise causada pela pandemia de coronavírus provocou no Brasil, o que fez os brasileiros optarem por outros tipos de alimento para brilhar no prato, antes já faziam, mas não com a intensidade dos últimos meses.
Ano passado a pandemia se desenvolveu no mundo e ganhou força, no que resultou no aumento do preço da carne bovina nos frigoríficos brasileiros. De acordo com uma pesquisa realizada pela USP (Universidade de São Paulo), o preço do produto subiu 35,22% entre janeiro de 2020 e fevereiro último.
Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o aumento é resultado do grande gasto do produtor com rações devido a redução da pastagem no campo provocada pela maior escassez nos últimos cinquenta anos no centro-oeste, também como a alta de exportações. Só em 2020, as exportações brasileiras foram de 8,53 bilhões, recorde histórico.
“A carne bovina é um item chamado de commodity, ou seja, tem o preço determinado pelo mercado internacional. O Brasil é um grande exportador de carne e as exportações para a China aumentaram muito durante a pandemia e continuam em alta. O mercado consumidor brasileiro sente um certo desabastecimento, ou seja, como o Brasil exporta carne para qualquer país do mundo, se o consumidor não tiver disposto a pagar certo preço em dólar convertido em real prefere-se vender em mercado externo, com isso o consumidor brasileiro acaba tendo um concorrente na hora de comprar a carne, que é consumidor externo, principalmente o chinês”, explica o economista Luis Moura.
Com o preço alto, alguns brasileiros reduziram o consumo da carne para quase nada por semana, algo que de longe é mais difícil visto que o Brasil é um dos países que mais consomem carne segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No ano de 2019 o consumo era de 30,7 quilos por habitante, peso que já estava reduzindo. Porém com a crise, o consumo caiu para 29,3 quilos por habitante representando uma queda de 5%.
O Ibope realizou uma pesquisa encomendada pelo Good Food Institute Brasil mostrando que a metade dos brasileiros (47%) reduziram o consumo de carne com a crise econômica desencadeada pela pandemia.
A intensificação de aves e suínos como protagonista no prato fez com que a produção destes aumentassem expressivamente durante a pandemia, sendo 14,68 milhões de toneladas e 4,25 milhões de toneladas, respectivamente. Os dados são da Conab (Companhia Nacional do Abastecimento), projetando ainda o aumento neste ano de 14,76 milhões de toneladas de frangos e 4,35 milhões de toneladas de suínos.
O estudo feito pela Conab confirma o do IBGE, mostrando que a produção da carne bovina se manteve estável em 2020, na comparação com o ano anterior. Tendência que deve se repetir em 2021, uma vez que a expectativa aponte para uma leve redução no volume total ofertado, em torno de 1%.
Alta na produção é sinal da grande procura. No ano passado, a busca por frango aumentou em 5% em relação ao ano anterior conforme revelou a ABPTA.
O alimento que teve um crescimento absurdo na sua procura foi o ovo de galinha. Em 2020, o brasileiro comeu mais ovos do que a média do cidadão mundial, que é de 230 unidades por ano. Cada brasileiro comeu 251 ovos por ano.
O alimento que a tempos atrás não entrava na alimentação saudável pelo alto teor de colesterol, deixou de ser coadjuvante e entrou em cena como alimento principal nos pratos no Brasil. As “poedeiras”, como são chamadas as galinhas nas granjas, entregaram 53 bilhões de ovos em 2020, o que deve aumentar para 56 bilhões neste ano.
“Vivemos realmente uma fase recorde de consumo e isso é bom. Mais de 50% da população brasileira reconhece o ovo como o segundo melhor alimento, depois do leite materno”, disse Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) em relação a alta no consumo de ovos.
Preço alto e desemprego não andam juntos quando a questão é economizar. O Brasil terminou 2020 com taxa média de desemprego de 13,5% — o pior resultado já que nunca antes tinha superado os 13%. Com isso, a pandemia fez o país encerrar 2020 com 13,4 milhões de pessoas na fila por um emprego.
Sem carne e sem acompanhamento: os alvos da fome
Quando a pandemia fugiu do controle da medicina e das autoridades políticas, foi necessário a criação de um auxílio que ajudasse os mais afetados, que inclui os trabalhadores e as famílias com baixa renda. A criação junto com a decisão de um valor para o auxílio emergencial em 2020 amparou os vulneráveis.
No ano passado, a assistência foi distribuída para 66 milhões de pessoas que receberam entre abril e dezembro valores a partir de R$ 600, e posteriormente reduzido para R$ 300. Com a nova rodada que abrange 45,6 milhões segundo a Caixa Econômica Federal, o valor foi reduzido radicalmente para R$ 250, em média. A ajuda está prevista para durar quatro meses.
Mesmo com o pagamento do auxílio, os alvos da insegurança alimentar no Brasil estão com maioria o público beneficiário do programa social Bolsa Família (88,2%). É o que revelou a pesquisa elaborada pelo Instituto Pessan (Rede Brasileira em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), expondo a quantidade de 116,8 milhões de pessoas que conviveram com algum grau de insegurança alimentar nos últimos três meses de 2020.
Já um estudo feito pelo Grupo de Pesquisa Alimento para a Justiça: Poder, Política e Desigualdade Alimentares na Bioeconomia, com sede na Universidade Livre de Berlim, aponta que 59,3% não tiveram alimentação adequada desde o início da pandemia. O grupo realizou a pesquisa “Efeitos da pandemia na alimentação e na situação alimentar no Brasil”.
De acordo com o Pnad 2017-2018 (Programa Nacional por Amostra de Domicílios), 37,7% dos brasileiros estavam com algum grau de insegurança alimentar, sendo que destes, 4,6% estão na categoria grave, ou seja, passam fome. Esses dados lançaram luz na fome que a população brasileira vive.
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