Nascido em São Domingos, na Bahia, mas registrado em Valente, o empresário Pedro Augusto de Oliveira Santana, 45 anos, foi parar nas manchetes dos jornais após ser preso pela Polícia Federal (PF) suspeito de manter em condições semelhantes a escravidão mais de 200 trabalhadores, maioria da Bahia, em um alojamento na cidade de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. Pedro chegou a ir para o presídio, em 22 de fevereiro, mas ficou apenas 10 horas presos. A imprensa gaúcha classifica o caso como o maior resgate de empregados feito até hoje no estado.
Em entrevista ao jornal O Pioneiro, Pedro alegou ser inocente e está passando por um processo permitido por Deus, categorizando como “uma provação”. “Eu vim de baixo, eu vim do zero, um “boia-fria”. Então, eu sei o que é trabalhar, o que é o trabalho. A minha vida foi sempre ajudar as pessoas. Porque, quando eu comecei, alguém me ajudou. Então, jamais eu vou fazer algo que venha prejudicar qualquer pessoa. Mas agora tem vários falsos testemunhos, que a gente vai esclarecer devagarzinho. Eu tenho certeza que vai ser esclarecido. Eu confio muito em Deus, a gente é evangélico há muitos anos, Deus tá na frente das coisas”, disse o empresário.
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Baiano e radicado em Bento Gonçalves há 11 anos, ele afirma ser um homem de bom caráter e que jamais cometeu algo que deixasse uma imagem de bandido. “Bandido, eu não sou. Quem me conhece de verdade, sabe que fiz trabalho fora do Brasil também. Por onde eu passei, eu deixei uma história, uma história boa. Nunca deixei nada que deixasse uma imagem de bandido, que fiz algo errado. Então, na minha vida, foi trabalhar honestamente. Tudo que eu consegui na minha vida foi com muita luta, muito sacrifício”, conta.
Qual erro cometi, que Deus permitiu que eu passasse por esse momento difícil? Tudo que fiz na minha vida até agora, até hoje, foi pra ajudar, foi pra dar oportunidade pra alguém que precisava
— Pedro Augusto de Oliveira Santana
Ele conta que veio para o Rio Grande do Sul em 2010 para trabalhar na gerência de mão de obra em frigoríficos, onde já fazia em Goiás. Logo depois, começou a contratar trabalhadores para carregar frangos, depois montou empresa própria e continuou no mesmo trabalho. Só depois de dois anos na Serra, começou a agenciar safristas para a colheita da uva:
“Quando foram surgindo as oportunidades, foram aparecendo parceiros. Como eu tenho essa habilidade na parte de gestão, fui gestor em outras empresas grandes, o pessoal me deu a oportunidade de ser o administrador, de ser o gestor da empresa”, conta.
Santana afirma não atrasar o salário do pessoal. O empresário relata que, quando um trabalhador finalizava a safra do ano, já deixava o nome para o próximo ano. Segundo ele, pessoas imploravam para trabalhar com ele: “Seu Pedro, tem vaga?”, “Me dá uma oportunidade, tô com filho pequeno, preciso trabalhar”.
Segundo a investigação, os homens pegavam dinheiro com agiotas. “Se eles têm alguém que eles pegavam dinheiro emprestado, pode ter certeza que não tinha o meu aval”, disse.
Os trabalhadores foram resgatados de uma pousada encontrada pelos policiais em condições insalubres. Seis safristas fugiram dela e denunciaram as condições em um posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). O lugar foi fiscalizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego e Ministério Público do Trabalho (MPT), que resgatou os trabalhadores.
Santana e o dono da pousada, Fábio Daros, são investigados pelo MPT e pela Polícia Federal por tráfico humano e submeter pessoas a trabalho análogo à escravidão.
“Toda documentação da pousada estava em dia. Se a pousada não tinha condições nenhuma, por que deram a liberação pra essa pousada funcionar?”, questionou o empresário.
Ao ser questionado sobre a comida estragada que era servida no alojamento, ele explicou que a comida era fornecida por um restaurante que trabalha para “mais de 200 empresas da serra gaúcha”. “Como é que essa comida tá estragada, de um restaurante tão grande? Eu posso apresentar as notas de alimentação, são valores muito altos”, afirma.
Sobre a acusação de que havia tortura na pousada e policiais militares estavam envolvidos, Santana alega que nenhum PM trabalhou para ele. “Nenhum policial nunca prestou serviço pra mim, nunca. Eu não consigo entender como é que um servidor público vai prestar serviço pra alguém por emprego. Eu nunca vi”, disse, informando que a polícia pode ter sido chamada para interferir em alguma briga na pousada.
Ele negou qualquer tortura praticada na pousada e jamais viu na pousada arma de choque, spray de pimenta e cassetete, como encontrados pelos fiscais do MPT. Ele informa que, na maioria das vezes, levava os funcionários para a colheita, pessoalmente.
Na prisão
Ele conta que quando ficou preso recebeu diversas ameaças. “Fiquei sozinho, isolado. Bem complicado. Muitas ameaças, porque a mídia tinha soltado que eu era uma pessoa que estava fazendo, escravizando baiano. Muitas ameaças, todo tipo de ameaças, ameaçaram minha família. O pessoal lá dentro, todo mundo estava já sabendo. Pode ter certeza que não, eu nunca ia querer passar por isso. E uma coisa que eu uso muito na minha vida, com 45 anos de idade, é a empatia. O que eu não quero pra mim, jamais vou querer pra ti”, diz Santana.
Plano montado para derrubá-lo
O empresário valentense acredita que existe alguém por trás querendo prejudicá-lo. “Alguém por trás que quer te prejudicar, eu acredito que pode fazer qualquer coisa”, disse.
Questionado sobre quem gostaria de prejudicá-lo, o empresário diz que tomou conhecimento de que estariam montando até cooperativa para assumir o serviço que ele fazia. “Por aí, fica uma interrogação. Eu não tenho nada concreto, mas eu tenho certeza que vai ser descoberto, eu não tenho dúvida”, declarou.
“Estão tentando jogar pra mim porque, quando o negócio tá meio feio… Tanto que eu não tenho amigo. Meus amigos sumiram tudo, todo mundo com medo de… Sumiu todo mundo. Mas eu tenho o maior amigo do mundo, que é Deus. Eu tenho certeza que ele tá comigo”, afirma.
As informações são do jornal Pioneiro.
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